quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Propus-me, em colaboração com um amigo, a escrever um conto infantil. Por coincidência, está neste momento a organizar-se também um jantar com a minha turma da primária e respectiva professora. Dei por mim, enquanto pensava na estruturação do conto e neste feliz acaso, a tentar voltar à mente de uma criança, a tentar perceber o que captaria a minha atenção e o que eu gostaria de ler. Tentei voltar a ser pequenina e pensar como pensava. Não consegui. Lembro-me de como era, de pormenores e situações que julgava já ter esquecido mas o que realmente não consigo reviver e sentir plenamente é toda aquela ingenuidade. Acredito pouco na inocência das crianças mas recordo-me da ingenuidade sentida. Acho que todos nós gostávamos de poder viajar no tempo e reviver algumas coisas. No meu caso, gostava de voltar a sentir toda aquela ingenuidade e a sensação de futuro distante, o "ainda falta até ser grande". Geralmente quando alguém fala nessa possibilidade, o pretexto seria não ter problemas. Não ter problemas? Todas as crianças têm problemas. Desde cedo que há sempre qualquer coisa que nos atormenta, seja a caderneta de cromos que não há meio de terminar, seja o intervalo grande ser pequeno demais para todas as brincadeiras que tencionamos fazer ou, numa visão menos romântica da coisa, o menino que goza connosco ou aquela disciplina onde não prestamos para nada. Se tentarmos medir a felicidade, se é que esta é de alguma forma mensurável, então claro que em criança somos mais felizes que em adultos. Eu em criança era bem mais feliz. Mas todo aquele floreado que se constrói em torno da infância, perdoem-me mas é treta. A minha infância foi terrível. A minha puberdade foi um verdadeiro teste à vontade de viver. A adolescência idem. Claro que quando for velhinha e não me conseguir mexer, vou recordar lunaticamente uma felicidade extrema que na verdade nunca vivi e sentir-me estupidamente saudosista. Acho que se resume um bocado à sensação de termos a nossa vida toda pela frente, àquela esperança de que as coisas vão melhorar e tudo vai ser lindo e perfeito como sempre sonhámos. Não, não vai. Depois da perda dessa ingenuidade e dessa esperança, com o passar dos anos e à medida que vamos percebendo a maldade que existe nos outros, a pressão que temos, as frustrações que vamos acumulando, os corações partidos e as decepções, percebemos que já não somos crianças. Lá no fundo, nunca fomos tão crianças assim. E o presente e o futuro, foram construídos com essa infância que cedo nos despertou para a desilusão. Nada é lindo e perfeito mas a capacidade de sonhar dá-nos alento. Somos adultos miseráveis porque deixamos de sonhar e de acreditar. A vida é feita de dor e desapontamento mas é a forma como lidamos com isso que faz de nós verdadeiramente crescidos. As coisas boas devem ser suficientes para reforçar o sonho e lembrar-nos que o futuro continua lá, à nossa espera. O futuro começa no presente.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Checking, checking... One, two, three. Primeiro post sem sentido, uma espécie de mic check por escrito. Reconhecer os cantos à casa, instalar-me comodamente e vamos lá começar. A vida são dois dias, o Avante são três e este blog tem tudo para esticar a corda até aos quatro.